Ainda estamos em outubro, não chegou o Halloween e a decoração natalina já está em promoção em toda parte. Daqui a pouquinho o Trick or Treat vai ficar no passado, ninguém vai se lembrar do peru no Thanksgiving, o Natal vai passar e ninguém percebeu nada. Entraremos 2024 com a sensação de quem acordou de um coma: onde estou? que dia é hoje? quem é esse velhinho de gorro vermelho? Estamos com pressa, o tempo é pouco e o salário é curto. Vamos perder a noção do tempo e das datas festivas: comeremos bacalhau no Thanksgiving, ovo de Páscoa no Ano-Novo e ninguém vai receber presentes do Papai Noel porque gastamos tudo na fantasia do carnaval. Enquanto o comércio se recupera do prejuízo que teve durante a pandemia de Covid-19, abarrotamos a casa com objetos nem sempre necessários e esquecemos o fundamental, que é viver um dia de cada vez, um feriado de cada vez, uma estação de cada vez. Afinal, apenas se vive uma vez.
Geralmente, estamos tão ocupados com as coisas do cotidiano que não damos atenção ao mais importante da vida, que é viver cada momento como se fosse único (porque é), e talvez seja o último (também pode acontecer.) As coisas realmente importantes não se limitam a uma sequência econômica: trabalhar, ganhar, comprar, gastar. A vida, o tempo e o coração deveriam ser preenchidos pelas pessoas que amamos, as coisas que nos fazem felizes e as prioridades, o que recebem o mérito de ocupar o nosso tempo limitado. Meu antídoto para esse desperdício é bem simples: organizar meu guarda-roupa. Separar as roupas que não me servem mais (o sorvete do verão fez muito estrago), organizar o que preciso para a estação fria na Flórida (onde o inverno é apenas um verão menos exigente). Vou começar um detox ao estilo de Marie Kondo, mas quero ir muito além, fazer um escrutínio interior. O que realmente preciso na minha vida? Quais preocupações desnecessárias estou cultivando? Vou gastar o meu suado dinheirinho aqui e ali, ou guardar para coisas mais significativas? Arrumar o guarda-roupa é só o começo, preciso também arrumar a vida, tirar o que se tornou pesado ou inútil. Compreendo que o dia é tão limitado quanto o guarda-roupa. Acumulamos futilidades, desavenças e rancores, desperdiçando um espaço precioso que poderia ser mais bem aproveitado pela alegria, felicidade e afeto. Já ensinou seu filho a pescar? Quando foi a última vez que chorou de tanto dar risada, dançou na chuva ou leu seu autor preferido? Quando vai começar a faculdade, o MBA, o curso de francês ou de fotografia? Se pensa no seu sonho toda noite antes de dormir, é melhor colocá-lo em prática em alguma das 16 horas que passa acordado. O dia não vai miraculosamente aumentar para 48 horas só porque assim o desejamos. O tempo é limitado, é verdade, mas nós não precisamos ser: precisamos ser mais exigentes com nossas prioridades e mais econômicos com nosso tempo. Se o inverno deixou tristeza, o sol do verão queimou a pele ou a ventania não traz felicidade, que vão embora com a última chuva do outono: agora só vivo para a primavera.