Recentemente fiz aniversário. Como se não fossem suficientes os 40 anos que completei ano passado, este ano fiz 41. Que lástima! Até que estava animada, pensando que aquela data no documento não tinha nada a ver comigo, mas depois fui entrando em profunda indignação. Tá certo, tem a Cristiane, a Maitê, a Claudia, todas maravilhosas. Mas não sou celebridade, eu, pobre de mim, gente normal. Então, parei de usar minissaia e biquíni. Limitei a vida social aos aniversários infantis — dos filhos, obviamente. Parei de cobrir os cabelos brancos e usar corretivo — esconder a idade pra quê? Desisti dos novos malabarismos na alcova, pois até as velhas posições me causam dor na coluna. Sabe, não quero mais ser quarentona, essa coisa sem graça. As quarentonas têm mais dificuldade para perder peso, mais cabelos brancos, menos entusiasmo com a vida, mais celulite, precisam fazer mais ginástica, não frequentam baladas etc. Aliás, tem palavra mais desestimulante que esta: “quarentona”? Tudo bem, tem o lado positivo. A maioria daquelas mulheres tem mais dinheiro do que tinham quando eram apenas “trintonas” (outra palavra horrível).
Mas este não é o meu caso, infelizmente. A experiência as impede de cometer tantos erros (também não é o meu caso, acho que ainda não tive tempo nem inteligência de aprender muito da vida), são mais pacientes (idem), os filhos já são adolescentes ou jovens adultos (os meus, mal saíram das fraldas), e os maridos são aqueles coroas charmosos (o meu marido é ainda mais jovem do que eu). Resumindo, essa coisa de passar dos 40 não pode aplicar-se à minha inquieta e internamente jovem pessoa. Fiquei tão incomodada após o meu aniversário número 41, deprimida até, que esta manhã comecei a pensar na matemática da vida. Veja: um de cada quatro sapatos que tenho me faz doer o pé; uma de cada quatro baladas de que participei foi péssima, ruim ou regular inferior; uma de cada quatro amigas é fofoqueira (desculpem a sinceridade, garotas); um de cada quatro bolos que assei não cresceu.
Sendo otimista, pelo menos um mês de cada quatro passei com a conta no vermelho. Se fizer faxina nos armários, uma peça de roupa ou um sapato, de cada quatro, pode ser doado sem remorso. Sendo profundamente pessimista, dos meus dias e noites vividos, apenas três de cada quatro podem ser classificados como excelente, bom ou regular superior. Resumindo matematicamente: 25 por cento de tudo que vivi pode ser descartado. O que sobraria é só a parte boa, a calda do pudim, a cereja do sorvete. Então, resolvi tirar um de cada quatro anos da minha vida. Aí acabam os antigos arrependimentos, as experiências frustradas, as cobranças do companheiro, da mãe e das amigas, o que poderia ter sido e não foi, o que foi mas poderia ter sido melhor. Sabe que, depois desta sábia e madura decisão estou me sentindo mais leve, mais feliz? Fazendo a matemática, grosso modo, voltei aos 31 anos e recuperei a minissaia, o salão de beleza e a vontade de saltar de paraquedas. A mulher que está na casa dos 30 viveu os 20 mais recentemente, aqueles anos sem cabelos brancos, sem celulite, sem tantas cobranças e responsabilidades, o jovem entusiasmo e otimismo com a vida. Pular dos 40 para os 20 é difícil, mas agora que voltei para os 31, é muito mais fácil. Quando alguém perguntar minha idade, mentirei: 41. No fundo sei que tenho apenas 31 e estarei feliz com esta “nova” idade. Quando fizer 80, novamente corto os 20 anos piores e volto aos 60 outra vez. É só uma questão de opinião, ninguém tem nada a ver com isso. Digamos que é uma matemática pessoal e intransferível, adaptada às novas necessidades da vida. E tu, leitor, qual a tua idade?