Todo mundo tem alguma esquisitice, isso é natural. O que não é normal é negar que tem alguma esquisitice, fazer de conta que é uma pessoa que vive dentro das normas, isso levanta muitas suspeitas. Uma das minhas peculiaridades é dormir com duas meias, duas. Meus pés são mais gélidos do que os pés dos pinguins da Antártida no inverno. Mas não servem quaisquer meias, tem que ser aquelas bem fofinhas, compridas; se forem coloridas, melhor ainda. Não consigo dormir sem elas. Já perguntei ao médico se isso era normal, talvez algum problema de saúde; ele disse que não, era só esquisitice mesmo, vai entender! Mas achei melhor não discutir com a medicina, isso não é coisa de gente normal.
Outra mania é usar palavras que não são muito comuns, aquelas mais difíceis de encontrar. No parágrafo anterior utilizei a palavra “gélido”, que significa “muito frio”. Isso me trouxe uma certa satisfação, algo como um “dever cumprido de gente esquisita”. Também não gosto de caminhar sobre aquelas grades dos bueiros, dá uma certa aflição. As pessoas costumam me dizer que são seguras, não tem perigo de cair, mas não acredito. Todo desenho da Hannah Barbera da minha infância tinha algum personagem desaparecendo em algum bueiro, acho melhor não arriscar. Também não gosto de usar roupa preta durante o dia, principalmente naqueles dias ensolarados de verão, mas costumo abrir exceção nos dias nublados, principalmente no mês de agosto, e sempre uso cinza nas sextas-feiras 13. Tenho um certo receio de que as pessoas me tomem por um vampiro da Transilvânia, o que seria muito esquisito — para as outras pessoas.
Divido com meus filhos uma preferência por gatos. Está tudo bem gostar de cachorros, apesar de achar os cinófilos (os apreciadores de cães) um pouco estranhos. O meu filho mais velho gosta de qualquer gato, de qualquer jeito e de qualquer cor. Já o pequeno é como eu: temos uma predileção por gatos gordos, daqueles bem pesados, que enchem o colo como se fossem uma almofada. Imagino que as pessoas infelizes nunca tiveram a satisfação de abraçar um gato balofo, é uma experiência que pode mudar a vida de alguém. Já os gatos magros…
É só pensar um pouco que todo mundo vai encontrar algo de estranho, supersticioso ou excêntrico em seu comportamento, mas nem por isso precisa fazer check-in no hospício mais próximo. Cada um possui um conjunto único e particular de qualidades ou atributos, isso se chama idiossincrasia. Atente o leitor que essa palavra, pouco utilizada (outro ponto positivo para mim), significa o modo de agir ou se comportar, característico de alguém, incluindo os comportamentos extravagantes. É esse conjunto que torna as pessoas interessantes. Eu recomendo que cada um abrace e ame a pessoa que é, com todas as suas manias e excentricidades. Afinal, ninguém pode ser como nós. Desde que você não insista em ir ao cinema de pantufas, calção de praia e chapéu de cowboy, está tudo bem. Afinal, isso seria muito estapafúrdio.